sábado, 28 de junho de 2008

Sexo na Cabeça

“A escolha homossexual tornou-se fato biológico”

clip_image002

(Foto: Divulgação)

Tomografia por emissão de pósitrons revela que fluxo de sangue na área do cérebro que controla emoções de homossexuais é parecido com o do sexo oposto.

O cérebro de um homossexual masculino é mais semelhante ao de uma mulher do que ao de um homem heterossexual. Assim afirma um estudo feito na Suécia e divulgado este mês. O mesmo estudo revelou provas sólidas de que a sexualidade não é uma opção, mas uma característica biológica.

Ao nascermos, e muitas vezes até antes, a observação anatômica do corpo do bebê define em que tipo de mundo ele vai viver: no azul masculino ou no cor-de-rosa feminino.

A criança, exposta a diversos estímulos ambientais, vai então moldando as redes neurais de seu caráter e personalidade e, para a alegria dos pais, torna-se um indivíduo sexualmente maduro, responsável pela propagação dos genes familiares. Esse ciclo tão comum torna-se um verdadeiro paraíso quando comparado com o destino daqueles que não seguem por esse caminho. Nesse caso, a vida pode ser infernal. Diante da entrada do Inferno, Dante e Virgílio se deparam com um aviso que diz para abandonar toda a esperança — uma vez dentro, não há como voltar.

Em termos didáticos, podemos classificar o sexo humano em três tipos:

· O primeiro é o sexo biológico, ou a determinação genética: cromossomos XY definem homens e cromossomos XX, mulheres.

· O segundo é a identidade sexual, ou como você se enxerga independentemente do sexo genético. Especula-se que a identidade sexual possa ser causada pela quantidade hormonal disponível para o desenvolvimento do cérebro fetal durante a gravidez.

· Finalmente, o terceiro é a orientação sexual, ou seja, o sexo pelo qual você se sente atraído.

Certamente, nenhuma dessas definições, sozinha, explica a diversidade sexual.

A orientação sexual, a última a se definir, leva em conta aspectos do sexo genético e da identidade sexual, além de influências do ambiente e da própria personalidade do indivíduo. A orientação sexual é extremamente ampla, mas costuma — simplistas que somos — ser dividida em hetero e homossexual.

A homossexualidade humana só começou a ser considerada um desvio de comportamento com o estabelecimento da civilização judaico-cristã. O porquê disso é motivo de muita especulação, dentre as quais destaco o interesse em manter uma organização familiar burguesa e de fácil controle. O homossexualismo estava na lista internacional de enfermidades mentais, até que finalmente foi retirado em 1990 pela Organização Mundial de Saúde.

Os cientistas Ivanka Savic e Per Lindström, do Instituto Karolinska em Estocolmo, explicam que o tamanho e a forma do cérebro variam de acordo com a orientação sexual. Essa similaridade se expressa em uma leve assimetria hemisférica que se evidencia com a ajuda da ressonância magnética. O cérebro de um homem gay parece o de uma mulher hétero – com os dois hemisférios mais ou menos do mesmo tamanho. O de uma lésbica, no entanto, parece o de um homem hétero – pois os dois têm o lado direito um pouco maior que o esquerdo.

Trabalhos anteriores já tinham detectado uma diferença na atividade cerebral, mas eles analisaram apenas a resposta sexual dos indivíduos. Por exemplo, na hora de ver um rosto atraente. Esse tipo de coisa, afirma Savic, pode ter sido “aprendida” ao longo dos anos. Por isso, os pesquisadores preferiram estudar parâmetros fixos, como o tamanho e a forma do cérebro, que se mantêm os mesmos desde o nascimento.

Diversos fatores apontam para um componente genético no homossexualismo, como, por exemplo, em gêmeos idênticos: quando um é homossexual, a chance de que o outro seja é maior do que quando os envolvidos são gêmeos não-idênticos. Também há evidência de que a homossexualidade masculina esteja relacionada a fatores associados ao cromossomo X materno. Outra observação é a alta freqüência de comportamento homossexual entre os animais.

Dados do livro “Biological Exuberance - Animal Homosexuality and Natural Diversity”, de Bruce Bagemihi (1999), sugerem que, de 450 espécies analisadas (entre elas, mais de 300 animais vertebrados), todas exibiam, em maior ou menor grau, hábitos homossexuais. Em destaque, nos macacos bonobos (com mais de 98% do genoma idêntico ao humano), o contato homossexual é tão ou mais comum do que o heterossexual.

Em humanos analisando o fluxo de sangue na amígdala, a área do cérebro que controla o aprendizado emocional, o humor e a agressividade. Controla as reações vinculadas ao medo, assim como as secreções hormonais do sistema endócrino. O padrão masculino homossexual corresponde ao feminino heterossexual e vice-versa.

Ao todo, o grupo estudou 90 participantes (25 heterossexuais e 20 gays de cada um dos sexos). Os resultados foram apresentados numa edição da revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a “PNAS”.

Independentemente de como o cérebro lida com fatores genéticos e epigenéticos na formação da sexualidade, ainda não sabemos por que, evolutivamente, o homossexualismo se mantém nas populações humanas, uma vez que casais homossexuais não geram filhos. Certamente o balanço entre homos e heterossexuais trouxesse alguma vantagem evolutiva para a espécie. Curiosamente, modelos matemáticos simulando essa situação revelaram uma interessante característica humana: caso exista um fator genético determinante da homossexualidade, 50% da população humana estaria dentro de um gradiente bissexual (Gavrilets e Rice, Proc. R. Soc. Lond., 2006).

Como descreveu Alfred Kinsey em 1949, as pessoas podem ser classificadas como exclusivamente heterossexuais (50%) a exclusivamente homossexuais (5%). Entre os dois extremos, um gradiente revela toda a diversidade humana, fruto de um cérebro complexo com um ambiente em constante mutação. A beleza do modelo matemático acima proposto é que ele seria facilmente testável se estivéssemos preparados para descobrir se a hipótese é verdadeira ou não.

Fonte: O cérebro sexual: o que é normal? (Alysson Moutri)

0 comentários: