terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Site publica manuscrito de 1752 sobre maçã de Newton


Está agora digitalizado e disponível ao público na internet o manuscrito original onde pode ser encontrada a história do dia em que uma maçã despencou perto de Isaac Newton e mudou a história da ciência.

O autor é William Stukeley, contemporâneo e conhecido de Newton, que escreveu uma biografia do cientista em 1752 (mais de 20 anos após a morte dele). O documento, "Memórias de Sir Isaac Newton", escrito em letra cursiva, pode ser encontrado nos arquivos online da Royal Society de Londres no endereço eletrônico: http://royalsociety.org/Turning-the-Pages

Stukeley conta que, em uma tarde de primavera em 1726, foi tomar um chá "embaixo da sombra de algumas macieiras" com Newton, então já perto da morte.

Segundo o biógrafo, o cientista disse então que a noção de gravidade surgiu na sua mente quando ele estava em uma situação parecida, nos anos 1660, quando Newton tinha perto de 20 anos.

"Ele estava lá em estado contemplativo, e uma maçã caiu. Ele questionou por que a maçã sempre desce perpendicularmente ao chão. Por que não vai para os lados, para cima? Por que sempre em direção ao centro da Terra? Seguramente, a razão é que a Terra a atrai. Deve existir um poder de atração na matéria", escreveu Stukeley no seu manuscrito.

Fonte: Folha de S.Paulo

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Partícula de “deus”:

Maquina reproduzirá o princípio do universo

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Simulação de como apareceria um microburaco negro no detector Atlas, do LHC (Foto: Cern)

Na última quarta-feira (dia 10/09), sob a fronteira entre a Suíça e a França, pesquisadores de mais de 50 países puseram em operação o maior e mais complexo instrumento científico já construído: um acelerador de partículas que custou mais de 3 bilhões de euros. Teve início o ambicioso projeto que simulará a explosão que deu origem ao universo e da qual surgiram todas as coisas — o Big Bang.

“Nós nos comportamos como crianças curiosas que gostam de quebrar as coisas para descobrir o que tem dentro”, diz o físico inglês John Ellis, uma das grandes cabeças envolvidas no projeto. O LHC (sigla para Grande Colisor de Hádrons: prótons e nêutrons) sondará as entranhas da matéria em busca das respostas que faltam para compreender vários dos mistérios do surgimento do universo. E a idéia é fazer isso sem destruir o mundo no processo, a despeito de rumores em contrário.

Como um “carrossel” gigantesco de 27 km de circunferência, resfriado a -271ºC, onde prótons (partículas que caracterizam os elementos existentes no universo) circulam impulsionados a 99,99% da velocidade da luz por poderosíssimos ímãs, construídos com tecnologia de supercondutores, ele produzirá um feixe em cada direção — horária e anti-horária. Imagina-se colidir estas partículas quando estiverem em máxima velocidade e com o impacto, simular condições próximas às que existiram logo após o Big Bang gerando um sem-número de partículas elementares que serão estudadas. Entre estas partículas, se buscará freneticamente por uma partícula em especial: o bóson de Higgs, ironicamente apelidado como "a partícula de Deus".

Existe uma teoria muito querida pelos físicos de partículas, chamada de modelo padrão. Ela é basicamente uma lista de todas as peças — ou seja, todas as partículas — usadas na confecção de um universo como o nosso. Ela explica como os prótons e os nêutrons são feitos de quarks, e como os elétrons fazem parte de um grupo de partículas chamado de léptons, em que também se incluem os neutrinos, partículas minúsculas de carga neutra. O modelo padrão também explica como funcionam as partículas portadoras de força (como o glúon, responsável por manter estáveis os núcleos atômicos, ou o fóton, que compõe a radiação eletromagnética, da qual faz parte a luz).

Os físicos prevêem a existência de uma partícula que explicaria como todas as coisas adquirem sua massa. É onde entra o bóson de Higgs. Até agora os cientistas não encontraram nenhum sinal concreto de sua existência. Por maior que fossem os aceleradores de partículas, o Higgs continuava ocultando sua existência. Agora, com a nova jóia da ciência européia, ele não terá mais onde se esconder, imaginam.

"Ninguém duvida que a idéia que está por trás do bóson de Higgs esteja correta", afirma Adriano Natale, físico da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Se ele, exatamente como foi proposto, não for encontrado, aparecerão outros sinais — partículas — que indicarão o novo caminho a ser seguido. Seja qual for a física que está por trás de tudo isso, algo vai aparecer, e este algo pode até levar a uma nova revolução na física. Aliás, a física bem que anda precisando de uma ‘nova revolução’".

Mas tudo isso ainda terá de esperar um pouco, pois o processo está apenas em seu início e as primeiras colisões só começarão a ocorrer daqui a alguns meses.

A caixa de Pandora e o fim do mundo

Cientistas têm comentado, embora com cautela, que os experimentos da Cern (Organização Européia para Pesquisa Nuclear) estão se aventurando pelo terreno da ficção científica especulativa: universos múltiplos, mundos paralelos, buracos negros no espaço funcionando como elos entre esferas diferentes de existência e microburacos negros gerados em aceleradores de partículas gigantescos.

Como assim? Microburacos negros? Os buracos negros não são aqueles objetos terríveis que existem nas profundezas do espaço, engolindo tudo que está ao seu redor, até mesmo a luz? Será que é uma boa idéia criar um no subsolo terrestre?

Em agosto, um grupo de cientistas apresentou uma denúncia perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, para que fosse suspenso o teste do LHC, diante do risco de que um buraco negro seja gerado.

No entanto a imensa maioria dos físicos diz que não haverá perigo algum. "Esses possíveis buracos negros são microscópicos", diz o pesquisador da Unicamp, Alberto Saa. "Uma vez criados, seriam quase imediatamente destruídos, espalhando diversas partículas com padrões muito peculiares."

Stephen Hawking — um dos físicos mais respeitados do mundo — defendendo sua teoria citada por Saa, diz que “a probabilidade de que o LHC tenha energia suficiente para criar buracos negros é menor do que 1%. Colisões como essas, e ainda com maiores quantidades de energia ocorrem milhões de vezes por dia na atmosfera da Terra e nada terrível acontece".

Entretanto em 1973, os físicos Albert A. Jackson e Michael P. Ryan da Universidade do Texas propuseram que um evento catastrófico ocorrido em 1908 na Sibéria foi causado por um "pequeno buraco negro" viajando pelo espaço em alta velocidade com uma massa aproximada entre 1020 e 1022 gramas (o algarismo “um” seguido de vinte ou vinte e dois zeros!). Eles explicaram que ao se aproximar da Terra, esse buraco negro causou uma explosão, penetrou na crosta da terra, atravessou-a e saiu do outro lado, destruindo, em convergência para o centro, cerca de 80 milhões de árvores, numa área de aproximadamente 2.150 quilômetros quadrados.

"O risco é suficientemente alto para fazer com que o projeto seja detido", argumentam os cientistas contrários ao projeto. E mesmo que os microburacos negros possam ser inofensivos ou improváveis, há uma outra hipótese um pouco mais ameaçadora.

Os vilões dessa vez são chamados de "strangelets". Seriam partículas de um tipo exótico de matéria que não existe normalmente. O problema é que a teoria diz que, se um deles conseguisse tocar o núcleo de um átomo convencional, o átomo seria convertido em strangelet. Ou seja, se o LHC produzir essas partículas, alguns físicos dizem que eles poderiam interagir com a matéria normal da Terra e iniciar uma reação em cadeia que consumiria o planeta inteiro.

Muitos e muitos estudos dizem que isso não vai acontecer. O problema é como decidir o que fazer, se o risco, embora baixíssimo, envolve a destruição da Terra. O astrônomo real britânico, Sir Martin Rees, escreveu o livro "Hora Final" para alertar sobre experimentos como esse, que, embora com uma probabilidade muito baixa, têm chance de causar resultados catastróficos.

Em breve, serão iniciadas as primeiras colisões com objetivos científicos. E aí, ou os rumores sobre a destruição do mundo se mostrarão completamente infundados e até tolos, ou ninguém estará aqui para dizer que tinha razão.

Em busca de uma solução final

Hoje, o entendimento do mundo físico se assenta sobre dois pilares. De um lado, há a física quântica, base para todo o modelo padrão da física de partículas. De outro lado, há a teoria da relatividade geral, que explica como funciona a gravidade.

Até aí, tudo certo. Há duas teorias, cada uma regendo seu próprio domínio de ação, e ambas funcionam muito bem, obrigado, na hora de prever os fenômenos. Qual é o problema? O dilema surge porque há circunstâncias muito especiais no universo que exigem o uso das duas teorias ao mesmo tempo. Aliás, o próprio nascimento do cosmo só pode ser explicado juntando as duas teorias. E aí é que está o problema: as equações da relatividade e da física quântica, utilizadas juntas, não fazem sentido. Começam a aparecer cálculos insolúveis e resultados infinitos — sintomas de que há algo muito errado em uma das duas teorias, ou até em ambas.

Por isso, os cientistas têm esperança de que exista uma teoria maior, mais poderosa, que inclua tanto o modelo padrão como a relatividade num único conjunto coeso de equações. Só essa nova teoria "de tudo" poderia realmente acabar com os mistérios remanescentes no universo.

A hipótese das supercordas — que prevê que as partículas elementares na verdade seriam cordas minúsculas vibrando num espaço com dez dimensões — é hoje a principal candidata a assumir essa função de teoria de tudo.

Até o momento, seus defensores não conseguiram apresentar nenhuma evidência real de que essa teoria das supercordas e dimensões extras realmente existam. Suas esperanças estarão agora depositadas no LHC. É possível — mas não muito provável — que ele atinja um nível de energia suficiente para revelar a existência de novas dimensões, além das três do espaço mais o tempo — que são as vivenciadas no cotidiano.

E, ainda que não chegue lá, o LHC tem boas chances de produzir objetos que emergem diretamente da interação entre a gravidade e o mundo quântico, como microburacos negros. "Esses possíveis objetos transcendem a relatividade real. Suas propriedades podem dar informações sobre regimes em que a relatividade geral não é mais válida", diz o pesquisador da Unicamp, Alberto Saa.

Carlos Alberto Bisogno
Publicado 13/09/2008 no jornal Folha da Manhã (Campos dos Goytacazes- RJ)

sábado, 28 de junho de 2008

Sexo na Cabeça

“A escolha homossexual tornou-se fato biológico”

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(Foto: Divulgação)

Tomografia por emissão de pósitrons revela que fluxo de sangue na área do cérebro que controla emoções de homossexuais é parecido com o do sexo oposto.

O cérebro de um homossexual masculino é mais semelhante ao de uma mulher do que ao de um homem heterossexual. Assim afirma um estudo feito na Suécia e divulgado este mês. O mesmo estudo revelou provas sólidas de que a sexualidade não é uma opção, mas uma característica biológica.

Ao nascermos, e muitas vezes até antes, a observação anatômica do corpo do bebê define em que tipo de mundo ele vai viver: no azul masculino ou no cor-de-rosa feminino.

A criança, exposta a diversos estímulos ambientais, vai então moldando as redes neurais de seu caráter e personalidade e, para a alegria dos pais, torna-se um indivíduo sexualmente maduro, responsável pela propagação dos genes familiares. Esse ciclo tão comum torna-se um verdadeiro paraíso quando comparado com o destino daqueles que não seguem por esse caminho. Nesse caso, a vida pode ser infernal. Diante da entrada do Inferno, Dante e Virgílio se deparam com um aviso que diz para abandonar toda a esperança — uma vez dentro, não há como voltar.

Em termos didáticos, podemos classificar o sexo humano em três tipos:

· O primeiro é o sexo biológico, ou a determinação genética: cromossomos XY definem homens e cromossomos XX, mulheres.

· O segundo é a identidade sexual, ou como você se enxerga independentemente do sexo genético. Especula-se que a identidade sexual possa ser causada pela quantidade hormonal disponível para o desenvolvimento do cérebro fetal durante a gravidez.

· Finalmente, o terceiro é a orientação sexual, ou seja, o sexo pelo qual você se sente atraído.

Certamente, nenhuma dessas definições, sozinha, explica a diversidade sexual.

A orientação sexual, a última a se definir, leva em conta aspectos do sexo genético e da identidade sexual, além de influências do ambiente e da própria personalidade do indivíduo. A orientação sexual é extremamente ampla, mas costuma — simplistas que somos — ser dividida em hetero e homossexual.

A homossexualidade humana só começou a ser considerada um desvio de comportamento com o estabelecimento da civilização judaico-cristã. O porquê disso é motivo de muita especulação, dentre as quais destaco o interesse em manter uma organização familiar burguesa e de fácil controle. O homossexualismo estava na lista internacional de enfermidades mentais, até que finalmente foi retirado em 1990 pela Organização Mundial de Saúde.

Os cientistas Ivanka Savic e Per Lindström, do Instituto Karolinska em Estocolmo, explicam que o tamanho e a forma do cérebro variam de acordo com a orientação sexual. Essa similaridade se expressa em uma leve assimetria hemisférica que se evidencia com a ajuda da ressonância magnética. O cérebro de um homem gay parece o de uma mulher hétero – com os dois hemisférios mais ou menos do mesmo tamanho. O de uma lésbica, no entanto, parece o de um homem hétero – pois os dois têm o lado direito um pouco maior que o esquerdo.

Trabalhos anteriores já tinham detectado uma diferença na atividade cerebral, mas eles analisaram apenas a resposta sexual dos indivíduos. Por exemplo, na hora de ver um rosto atraente. Esse tipo de coisa, afirma Savic, pode ter sido “aprendida” ao longo dos anos. Por isso, os pesquisadores preferiram estudar parâmetros fixos, como o tamanho e a forma do cérebro, que se mantêm os mesmos desde o nascimento.

Diversos fatores apontam para um componente genético no homossexualismo, como, por exemplo, em gêmeos idênticos: quando um é homossexual, a chance de que o outro seja é maior do que quando os envolvidos são gêmeos não-idênticos. Também há evidência de que a homossexualidade masculina esteja relacionada a fatores associados ao cromossomo X materno. Outra observação é a alta freqüência de comportamento homossexual entre os animais.

Dados do livro “Biological Exuberance - Animal Homosexuality and Natural Diversity”, de Bruce Bagemihi (1999), sugerem que, de 450 espécies analisadas (entre elas, mais de 300 animais vertebrados), todas exibiam, em maior ou menor grau, hábitos homossexuais. Em destaque, nos macacos bonobos (com mais de 98% do genoma idêntico ao humano), o contato homossexual é tão ou mais comum do que o heterossexual.

Em humanos analisando o fluxo de sangue na amígdala, a área do cérebro que controla o aprendizado emocional, o humor e a agressividade. Controla as reações vinculadas ao medo, assim como as secreções hormonais do sistema endócrino. O padrão masculino homossexual corresponde ao feminino heterossexual e vice-versa.

Ao todo, o grupo estudou 90 participantes (25 heterossexuais e 20 gays de cada um dos sexos). Os resultados foram apresentados numa edição da revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a “PNAS”.

Independentemente de como o cérebro lida com fatores genéticos e epigenéticos na formação da sexualidade, ainda não sabemos por que, evolutivamente, o homossexualismo se mantém nas populações humanas, uma vez que casais homossexuais não geram filhos. Certamente o balanço entre homos e heterossexuais trouxesse alguma vantagem evolutiva para a espécie. Curiosamente, modelos matemáticos simulando essa situação revelaram uma interessante característica humana: caso exista um fator genético determinante da homossexualidade, 50% da população humana estaria dentro de um gradiente bissexual (Gavrilets e Rice, Proc. R. Soc. Lond., 2006).

Como descreveu Alfred Kinsey em 1949, as pessoas podem ser classificadas como exclusivamente heterossexuais (50%) a exclusivamente homossexuais (5%). Entre os dois extremos, um gradiente revela toda a diversidade humana, fruto de um cérebro complexo com um ambiente em constante mutação. A beleza do modelo matemático acima proposto é que ele seria facilmente testável se estivéssemos preparados para descobrir se a hipótese é verdadeira ou não.

Fonte: O cérebro sexual: o que é normal? (Alysson Moutri)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Fawcett , o caçador de antiguidades

clip_image002A historiografia relata a trajetória de vida do explorador inglês Percy Harrison Fawcett, o Coronel Fawcett, que em 1925, desaparecera quando procurava por uma civilização perdida na selva brasileira, e que ele acreditava ser originária da Atlântida. Sua saga e o mistério de seu desaparecimento também foram influências decisivas que inspiraram a criação do personagem de Indiana Jones. O coronel da Real Artilharia de Sua Majestade desapareceu onde hoje é o Parque Nacional do Xingu no estado do Mato Grosso. Nunca ficou claro se Fawcett tinha interesse no conhecimento ou procurava jazidas de minério.

"Chegou à capital do Mato Grosso o militar inglês P. H. Fawcett, pronto para explorar cidades soterradas nos sertões mato-grossenses e pesquisar a existência de ouro nas minas que encontrar pelo caminho. Fawcett avisa que só voltará depois de encontrar as ruínas de uma cidade originária da Atlântida." Notícia telegrafada, veiculada em jornais de todo o mundo, a 6 de março de 1925.

Fawcett já havia cruzado vários cantos do mundo trabalhando para o exército inglês, mas o Brasil tinha algo que o deixaria fascinado. Não que ele fosse um grande admirador do país, mas as constantes lendas sobre uma cidade perdida ainda habitada por índios de pele branca deixaram Fawcett obcecado. Lendas que falavam de um povo originado pelos sobreviventes da Atlântida, nos confins das selvas brasileiras.

Foram duas expedições feitas ao Brasil. Na primeira, Fawcett não clip_image004obteve sucesso na meta de encontrar sua cidade, mas encontrou indícios que o animariam a organizar uma nova expedição. Como ele demonstrou em uma carta dirigida a jornais de todo o mundo:

"Não duvido um só instante da existência dessas velhas cidades. Por que haveria de duvidar? Eu mesmo vi parte de uma delas - e essa é a razão pela qual achei que deveria fazer novas expedições. As ruínas parecem ser de um posto adiantado de uma das grandes cidades, as quais estou certo serão descobertas juntamente com as outras se a expedição for bem preparada, com uma pesquisa profunda sobre o assunto. Infelizmente não posso induzir os cientistas a aceitarem até mesmo a hipótese de que há indícios de uma antiga civilização no Brasil. Viajei por lugares ainda não explorados, os índios têm me falado de construções antigas, seu povo e mais coisas estranhas existentes nestes locais. Se tiver bastante sorte e conseguir atravessar a região de índios selvagens e regressar vivo, terei condições de ampliar imensamente o nosso conhecimento histórico. Percy H. Fawcett – 1925"

clip_image006Uma estatueta de basalto, que Fawcett ganhara de H. Rider Haggard, o autor de As Minas do Rei Salomão, justificaria por si só todo o mito criado em torno do coronel. Além de cinco inscrições indecifráveis em seu peito, uma particularidade da estatueta intrigava a todos que nesta tocavam. Mais uma vez, nas palavras do próprio Fawcett:

"Existe uma propriedade particular nessa imagem de pedra, e todos podem senti-la ao tocar a mão. Estranhamente, uma corrente elétrica atravessa o braço da gente, causando um choque tão forte que muitas pessoas a largam de imediato. A razão dessa energia eu desconheço. Acredito sinceramente que ela veio de uma das cidades perdidas. Quando descobrir os significados existentes nela, descobrirei também o caminho para chegar ao lugar de onde se originou."

 Fawcett desapareceu nas matas brasileiras em busca da solução destes enigmas. O seu último registro se deu em 29 de maio de 1925, quando Fawcett telegrafou uma mensagem a sua esposa dizendo que estava prestes a entrar em um território inexplorado acompanhado somente de seu filho e um amigo de Jack, chamado Raleigh Rimmell. Eles então partiram para atravessar a região do Alto Xingú, e nunca mais voltaram.

Muitos presumiram que eles foram mortos pelos índios selvagens locais. Porém não se sabe o que aconteceu. Os índios Kalapalos foram os últimos a relatar terem visto o trio. Durante as décadas seguintes, foram organizadas várias expedições de resgate, porém nenhuma obteve resultado positivo. Tudo o que conseguiram foram coletar histórias dos nativos. Alguns disseram que eles foram mortos por indígenas hostis ou que animais selvagens os atacaram. Ouviram também algumas versões mais fantásticas dentre as quais destacam-se a história de que Fawcett teria perdido sua memória e estaria vivendo como chefe de uma tribo de canibais ou de que eles realmente encontraram a cidade perdida, mas foram impedidos de retornar para manter o segredo da existência de tal local. Ao todo, cerca de 100 exploradores morreram tentando procurar pelos membros da expedição de Fawcett. Três expedições de resgate também desapareceram na mesma região, que continua praticamente inexplorada até os dias atuais.

A fonte da vida:

Virtudes teologais em conflito

clip_image002[9]“O que o STF está desafiando não é uma questão religiosa e sim jurídica. A religião pertence à intimidade do ser do homem e todos devemos abrir nossos corações com humildade para proclamar nossa fé na pluralidade.”, defendeu no início de sua fala, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Alberto Menezes Direito que votou a favor das pesquisas científicas com células-tronco embrionárias.

Mas até onde esta afirmação pode ser considerada na prática verdadeira? O ministro – católico fervoroso – votou a favor, mas estabeleceu condições que poderiam inviabilizar, na prática, as pesquisas.  “Estamos julgando o alcance constitucional da proteção à vida e da dignidade da pessoa humana”, ainda acrescentou, completando que não se deveria julgar a questão como de ordem canônica.  Mas quem em sã consciência afirmaria que este exaltado ministro estaria se isentando de toda cultura religiosa. Quem teria coragem de dizer, sem parecer cínico, que o julgamento que assistimos foi imparcial e estritamente técnico?

Em uma votação controversa, por seis a cinco, o STF decidiu pela liberação do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas — como permite a Lei de Biossegurança aprovada em 2005. O STF retomou na quarta-feira (dia 28 de abril) o julgamento da uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) do então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, contrária aos estudos. 

Fonteles sustentou na ação julgada que a nova lei fere a proteção constitucional do direito à vida e a dignidade da pessoa humana. E que a vida humana começa com a fecundação. “Se o embrião é vida humana, a decorrência lógica é que a Constituição o protege. Não há termos inúteis na Constituição”, disse. “Se para salvar uma vida eliminamos outra, ficamos sem salvação. Os cientistas não podem cair no abismo do utilitarismo. Para sermos dignos da vida temos que valorizar a vida”, complementou.

No entanto, aperfeiçoando esta linha de raciocínio, se o STF julgasse este argumento procedente, deveria determinar que cada embrião atualmente congelado no Brasil fosse implantado num útero. “Para o embrião ter direito a vida, ele teria que ter direito a um útero.”, disse o ministro Carlos Ayres Britto, relator do processo, ao reafirmar seu voto proferido no início do julgamento, em março, quando optou pela improcedência da ação de inconstitucionalidade.

Ayres Britto pediu a palavra logo após ouvir o ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Segundo ele, a lei questionada é criteriosa e autoriza apenas o uso das células-tronco embrionárias produzidas “in vitro” e para fins de pesquisa e tratamento terapêutico. Esta ainda impõe condições: autorização do casal doador, inviabilidade reprodutiva das células, tempo de congelamento — três anos da publicação da lei ou que, já congelados na data da lei, completem três anos. Em sua exposição, Ayres Britto afirmou que qualquer pesquisa precisa passar pelos comitês de ética, nas universidades, que devem aprovar as pesquisas. O ministro lembrou que a lei proíbe a comercialização de células ou embriões, a engenharia genética e a clonagem humana. E asseverando retrucou que “Um embrião não é brasileiro, não tem nacionalidade”. Advertiu ainda que muitas pessoas, que de acordo com a Constituição têm direito à saúde, aguardam a decisão do STF sobre o tema.

O ministro Carlos Alberto Menezes Direito alertou, em uma absurda digressão, demonstrando sua ignorância técnico-científica, para um suposto risco de busca de uma “raça pura” com o refinamento das pesquisas. “Será que devemos liberar uma paixão sem prover uma razão? Respondo que não, ao revés: a impaciência deve ceder à tolerância para buscar convergências que nos permitam encontrar iluminados amanheceres”, disse.

Para o ministro Joaquim Barbosa, impedir as pesquisas é um retrocesso. A pesquisa com células-tronco em questão no processo pode cumprir o mesmo papel neste século que o antibiótico cumpriu no século XX. “Proibir a pesquisa significa fechar os olhos para o desenvolvimento científico e para os eventuais benefícios que dele podem advir”, lembrou.

A esperança é uma das virtudes teologais, mas parece que a se impõe como obstáculo para que a terceira virtude seja praticada, a caridade. A CNBB em nota aberta a impressa comunicou: “Sendo uma vida humana, segundo asseguram a embriologia e a biologia, o embrião humano tem direito à proteção do Estado. (...) Reafirmamos que o simples fato de estar na presença de um ser humano exige o pleno respeito à sua integridade e dignidade: todo comportamento que possa constituir uma ameaça ou uma ofensa aos direitos fundamentais da pessoa humana, primeiro de todos, o direito à vida, é considerado gravemente imoral.”

Pensem comigo, se um embrião tem direitos constitucionais, antes de tudo, defenda-se, então, com o mesmo ardor, o imediato recolhimento de toda a população infantil de rua. Dêem prioridade às crianças, sigam seu estatuto, façam cumprir a constituição que lhes confere a dignidade. Por que, não agora?

Não é “contra-dogmático” ser miserável!

Julgamento histórico

clip_image002"É em momentos como este que podemos perceber que a aparente onipotência do tribunal constitucional não pode tergiversar e restringir o legislador", disse Gilmar Mendes, apontando que o Supremo confirmou "o austero compromisso com a defesa dos direitos fundamentais no Estado democrático de Direito".

Para Marco Aurélio não há inconstitucionalidade na Lei de Biossegurança, que prevê o uso das células embrionárias nos estudos. O artigo 5º desta lei - que trata do direito à vida e dignidade da pessoa humana - foi questionado na ação contra as pesquisas, em pauta no Supremo. Ele julgou improcedente a ação.

“Onde reside a ofensa ao citado artigo 5º [da Lei de Biossegurança] na Carta Federal [Constituição] a ponto de levar à defloração da constitucionalidade?”, indagou o ministro. A lei [de Biossegurança] foi aprovada com mediante placar acachapante. Foram 96% dos senadores e 85% dos deputados a favor, o que sinaliza a razoabilidade [da lei]”, ressaltou.

“A personalidade jurídica depende do nascimento com vida. O embrião que seria descartável não é uma pessoa humana”, complementou.

"Entendo que esse foi realmente um julgamento histórico. O tribunal discutiu os limites entre a vida e a morte. São transcendentes, questões que interessam à generalidade das pessoas. Conseguida a maioria absoluta, mesmo que outros ministros tenham estabelecido restrições ou posto condicionamentos, não importa. O que vale são os votos majoritários. Eles não estabelecem condição alguma ou exortam o Congresso Nacional (a fazer mudanças)", resumiu o ministro Celso de Mello.

COMO O CÉREBRO PRODUZ NOVOS NEURÔNIOS?

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quinta-feira, 22 de maio de 2008

O Princípio e o Fim


Um Ensaio Sobre os Limites e o Futuro do Discurso Científico


A busca por entender a realidade íntima das coisas elevou a humanidade dando-lhe a curiosidade. Na tentativa de sistematizar o conhecimento que a supriria, surgiu a ciência. Com a finalidade de divulgar este conhecimento, à medida que ele nascesse, e torná-lo acessível e atraente, nasceu o jornalismo científico. No entanto, a cada dia, ele vem se tornando mais abundante e psicodélico. Verborrágico, praticamente substituiu as escolas e universidades como a principal fonte de informação para o grande público e para atingi-lo, tem distorcido seriamente os princípios científicos. Assim, ao apresentar, sem restrições, pseudociência como se fosse ciência genuína — paradoxal e tortuosamente — ele apresenta a ciência austera, criteriosa, como construção severamente desumana. A imprensa tem afastado este público da essência da formação do conhecimento e seu real fascínio.


Mas por que a ciência estaria correndo perigo? A curiosidade é indolente e se apega facilmente a comodidades tolas. Por fim, o que a motivou em princípio, pode acabar por desencadear seu fim. Há uma invasão maciça de embustes científicos nas mídias tradicionais e principalmente na Internet que deslumbram a curiosidade. A ironia é que isso está acontecendo à medida que se estabelece uma sucessão extraordinária de progressos tecnológicos e científicos como nunca houve na história da humanidade. Parece ainda incompreensível que alguém que trabalhe diariamente com um dos mais complexos equipamentos já criados, o computador, derivado da aplicação de um volume gigantesco de descobertas da física, química e da matemática, acumuladas ao longo de muitos séculos, seja a mesma pessoa que acredita em astrologia, duendes, homeopatia, anjos, criacionismo e outras sandices do gênero. Parece que os objetos se tornaram tão intricados que se igualaram a magia aos olhos de todos —, analfabetos científicos.


Há também divulgadores científicos e professores, que se julgando senhores de toda a verdade, ignoram que a própria ciência pouco a pouco se descobre menos "científica" do que se pensava. Desconhecem que ela é mais compassiva a se aproximar dos afetos humanos do que se imaginaria. Propagam o mito de uma ciência fria, intimidando talentos, e se fechando, bloqueados de inspirar paixões voltadas a ela.


Há a necessidade de uma reconstituição — melhor dizendo —, de uma reconstrução da idéia de ciência e que seu conceito "moderno", que está vinculado ao projeto iluminista de ordem, controle e síntese, assumido impetuosamente pela tecnologia, seja substituído de forma responsável por uma percepção de prudência, coerência e plausibilidade. Na modernidade, em especial na Revolução Científica dos séculos 18 e 19, a procura por explicações sobre a natureza e a vida tornou-se a mola propulsora da sociedade. E foi justamente para atender as expectativas de uma sociedade sedenta por ter notícia desses avanços que surgiu o jornalista científico arrogando para si o direito (e o dever) de transformar conhecimento científico e tecnológico em informação de compreensão popular.


Todos reconhecem que por meio de seus rituais de descoberta, a ciência prolongou a vida, venceu doenças e ofereceu novas liberdades sexuais e comerciais. Derrubou deuses e revelou um cosmos mais complexo e espantoso do que qualquer coisa produzida pela imaginação. Mas apesar de toda sabedoria acumulada até hoje, a ciência ainda não conseguiu respostas para questões fundamentais, como a razão da existência do Universo e da própria vida. O fracasso das pretensões que o cientificismo tinha de respondê-las abre espaço para o retorno do sobrenatural na compreensão da realidade. Isso está acontecendo de forma significativa, e infelizmente os jornalistas e editores não hesitam em comprometer sua própria integridade e a de seus órgãos de comunicação ao fazerem reportagens constantes com "alternativos" e "esotéricos", dando credibilidade a estes por meio de uma linguagem sensacionalista e acrítica. Ninguém tem nada contra entretenimento e fantasia, mas a mídia deveria ser mais responsável e íntegra, marcando claramente o que é ciência e o que é crença.


Alguns cientistas devem se perguntar, atônitos, diante do vigor cada vez maior das religiões fundamentalistas em todo o mundo, se as velhas certezas terminaram por ocupar o vácuo criado pela falta de conclusões científicas quanto às grandes questões da vida cotidiana. A ciência não é muito reconfortante em momentos de morte —, imaginam.


O ser humano acredita já ter descoberto o que podia sobre os principais mistérios da natureza, como a origem do Universo no Big Bang, as propriedades da matéria e da energia determinadas pela mecânica quântica, os fundamentos do espaço e do tempo explicados pela relatividade e o desenvolvimento da vida, elucidado pelo código genético e pela teoria da evolução de Darwin. Reduz-se tudo a idéias mortas incapazes de obter um desenvolvimento para além do já conseguido. Todos se voltam à vida prática e se perguntam apenas como a ciência e o conhecimento já adquirido podem resolver seus problemas imediatos. Assim surge o empenho enfático no desenvolvimento da tecnologia, e as prioridades de pesquisa se tornam cada vez mais politizadas e demagógicas.


Mediador entre a ciência e a sociedade, o jornalismo científico foi definido como o porta-voz da fronteira do conhecimento humano. Seu objetivo era popularizar a ciência, atendendo às necessidades do cidadão de compreender como e por que as descobertas científicas e tecnológicas o afetam. Porém muita coisa mudou. Sentimos os efeitos devastadores das duas grandes guerras, da poluição, do aquecimento global, do buraco na camada de ozônio, da urbanização desordenada, entre outros mais que revelaram uma face do progresso científico que o homem não queria ver. Problemas pragmáticos sérios ainda não foram solucionados, como o câncer e a AIDS que continuam a obscurecer muitas vidas. Dificuldades como estas ajudaram a alimentar o desencanto da sociedade com a ciência. A tensão entre a ciência e o público, iniciada nos anos 60 com o movimento ambientalista, criou novas barreiras à pesquisa que hoje pleiteia empregar células-tronco e clonagem humana "para o bem da humanidade". Não temos mais a mesma impressão otimista e triunfalista criada pela ciência moderna. Além disso, o próprio método científico moderno, inquestionável até então, entrou em xeque após a ascensão da física quântica, das descobertas da teoria geral da relatividade e da entropia. As ciências físicas parecem ter perdido uma linha narrativa que no passado lhes era favorável e estão ligeiramente à deriva, perdendo contato com a realidade, entrando no âmbito da fantasia e da imaginação pura, abstrata, com suas novas dimensões e supercordas.


Estudos de intelectuais como Jean François-Lyotard, Gaston Bachelard e Thomas Kuhn parecem concordar em um mesmo ponto: a queda do véu de infalibilidade científica cria a convicção de que o conceito de ciência, bem como seus métodos, dependem em grande parte das mudanças sociais e ideológicas de sua época. Dessa forma, a ciência torna-se mais aberta para aceitar a história e a filosofia como critérios válidos para a compreensão da realidade.


Não é de se espantar, portanto, que quando a noção de ciência muda, muda também a maneira de se divulgar a ciência. Na verdade, o jornalista científico acaba ficando preso a sua época — e hoje, tudo é mercadoria. As revistas de divulgação científica brasileiras, como maiores representantes da popularização do conhecimento científico no país, não ficam atrás e também apresentam claramente os efeitos da chamada "crise da ciência" em suas pautas e linha editorial voltadas especificamente a atender ao mercado, esquecendo aos poucos seu compromisso social de fonte elucidativa que fala mesmo o que não se quer ouvir.


Definir precisamente com palavras o rumo da ciência e, por conseguinte, do jornalismo científico parece-nos uma tarefa tão difícil quanto, usando os métodos e equações probabilísticas da física quântica, determinar sua trajetória histórica. Afinal de contas, se o próprio conhecimento científico está tão fragilizado e incerto em sua realidade, o que se pode exigir dos jornalistas científicos? À medida que o mundo avança por um século nascido em meio à disputas pelo petróleo, a um clima político divisivo e a desafios cada vez mais sofisticados à vida, parece justo fazer uma pergunta que vai de encontro a séculos de pensamento ocidental. A ciência ainda será capaz de nos dar as respostas que queremos?


Se até então não encontramos resposta, ao menos há o alento da prosa realisticamente perturbadora de Jorge Luiz Borges (EL HACEDOR, 1952):


"Um homem propõe-se a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitação, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto".

Publicado também no Portal do Jornalismo Científico on line

quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Paradoxo do Corvo

Quando a fé é necessária

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Uma gota, um fio de cabelo ou uma célula servem como vestígios e podem apontar o autor de um crime aparentemente sem provas. Por isso mesmo, o investimento em tecnologia é um dos itens destacado pelos diretores da Polícia Científica de São Paulo. No entanto, a reconstituição da morte de Isabella Nardoni, no Edifício London, Vila Mazzei, Zona Norte de São Paulo, onde ela foi assassinada em 29 de março, a partir das conclusões elaboradas por peritos criminais abre uma séria discussão sobre até onde podemos acreditar na infalibilidade dos métodos e preceitos científicos.

Recursos tecnológicos são apontados como as principais novidades no trabalho da polícia científica neste caso de assassinato que mobiliza a opinião pública. A coleta de provas e a análise do local estão demonstrando ser fundamentais para esclarecer a autoria deste crime. É nesse momento que entra em cena o perito criminal que tem seu trabalho como a base para as investigações da polícia e a chave para esclarecer vários enigmas nas melhores entidades investigativas do mundo.

Contudo, é necessária, nesse momento, uma séria reflexão: Por que deveríamos supor que só porque, repetidas vezes, verificamos que apenas há corvos pretos frente a nossos olhos, significa que "todos os corvos são pretos" quando esta afirmação poderá ser facilmente falsificada pela observação de um corvo vermelho? A resposta para esse pergunta é simples: necessitamos acreditar nisso, precisamos ter fé que assim sempre será, só assim controlamos os fatos e podemos inferir sobre eles.

Se alguém afirma que a ciência é impassível, que é impossível uma ciência intuitiva, metafísica, é porque não meditou com suficiente profundidade a sua noção de “objeto”. Hoje sabemos, melhor dizendo, assumimos o papel fundamental da intuição nas grandes criações humanas, mesmo as científicas. Olhando um quadrado, mesmo prescindindo da experiência de um estudo prévio, sabemos instantaneamente que não podemos dividi-lo em dois quadrados com uma única linha reta. Saber isso de imediato é ter a intuição do quadrado. Além disso, nosso conhecimento sobre os objetos reais é apenas fruto do que somos capazes de pensar sobre ele e essa capacidade é delimitada por nossa expectativa. Vivemos na verdade um anarquismo teórico travestido de metodologia cientifica.

O perito é treinado para ver o que os outros não enxergam e esse treinamento se sustenta em basicamente dizer-lhe o que procurar e como procurar. Ao chegar ao local de um crime, os técnicos fazem uma primeira varredura em busca de pistas e devem ser os primeiros a chegar com o cenário já previamente isolado para que se acredite ter preservadas, antes de tudo, as condições em que o crime foi cometido. “Esse local tem que ser preservado o máximo possível para que os vestígios que vão ser analisados sejam os mais reais possíveis”, diz o perito criminal Ricardo Salada. Entre o material básico carregado pelos peritos estão lupas, pincéis para o recolhimento de impressões digitais e luz ultravioleta, que realça e capta materiais biológicos: manchas de sangue, líquido seminal, saliva e suor que só são vistas com o auxílio de uma lente especial. “Todas as análises passam por cálculos e serão prova probabilística que fará parte de todo o inquérito", disse Eloísa Bittencourt, diretora do Núcleo de Bioquímica do Laboratório de DNA da Polícia Científica de São Paulo.

No caso Richtoffen, a perícia foi decisiva para chegar aos culpados pelo assassinato do casal Marisia e Manfred: a filha Suzane, o namorado Daniel e o irmão dele. “O local fala. Uma porta entreaberta, uma luz acesa, uma televisão ligada, são informações que vão começar a me dar dados de como aconteceu o crime”, conta o perito criminal Ricardo Salada que foi o primeiro a chegar ao local do crime e logo percebeu que havia algo estranho. “Bagunça organizada, uma bagunça orientada. Outros pontos da residência que não foram nem mexidos.” No quarto do casal, o revólver deixado por supostos ladrões também chamou a atenção. Não foi simplesmente um latrocínio - um ladrão jamais deixaria uma arma de fogo no chão.

Indiciados pela morte da menina, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, pai e madrasta de Isabella Nardoni, se tornaram suspeitos de homicídio doloso (com intenção) qualificado por motivo torpe, crueldade e impossibilidade de defesa da vítima através de um conjunto de laudos técnico-científicos resultado das várias visitas dos peritos ao local do crime e do exame do corpo da vítima.

Mas para chegar a isso os peritos se reuniram para tentar chegar a um consenso e até pediram opiniões externas de outros colegas, pois a intenção era entregar o laudo à policia o mais rápido possível e sem contrariedades. A ciência se vende como não possuidora de contrariedades. Assim, após semanas de tentativa do Instituto Médico Legal (IML) de responder o que teria provocado a morte de Isabella, os legistas só não tinham dúvidas e concordavam que a menina sofreu uma parada respiratória: exames apontaram marcas no pescoço, manchas no pulmão e no coração, e as pontas dos dedos avermelhadas, sinais que normalmente indicam asfixia.

Duas dúvidas ainda precisavam ser esclarecidas pelos legistas: o que teria deixado a menina sem respiração e se a parada respiratória teria acontecido antes ou depois dela ser jogada do 6º andar. Fatos fundamentais para o desenrolar do inquérito. Para responder às questões, os médicos estudavam três hipóteses. A primeira era a de que Isabella teria sido estrangulada. O aperto no pescoço teria deixado a menina sem respiração e provocado um desmaio. A segunda apontava para uma convulsão. Um levantamento feito pelo IML mostrava que Isabella poderia ter sido chacoalhada com muita força. Nesse caso o cérebro teria ficado sem oxigenação por mais de cinco segundos, o que também provocaria um desmaio. A última é que a menina tenha sofrido uma parada respiratória causada pela queda. Hipóteses completamente díspares entre si que transformariam completamente a cena e as possíveis motivações para o crime. Por fim, após as inúmeras conferências, prevaleceu, sabe-se lá por que, a versão do estrangulamento.

Para tentar aproximar-se da realidade, os peritos utilizam-se de processos probabilísticos que apontam e supõem uma direção que pode ou não, em medida matemática, se configurar em reais fatos. Não há, pois, como escapar, uma teoria não passa de uma suposição quimérica. A metafísica, nem sempre consciente, não é apenas possível, mas absolutamente necessária, no mínimo como fundamento, implícito ou explícito, das ciências. “A perícia é um trabalho delicado, que exige, antes de tudo, a preservação da cena do crime. Sua finalidade, tanto criminalística quanto médico-legal, é fornecer os elementos para aqueles que têm a competência legal p’ra indiciar, denunciar e sentenciar. O perito não condena nem absolve ninguém, só fornece elementos pra quem pode fazê-lo”, conclui o coordenador da Polícia Técnico-Científica de São Paulo, Celso Perioni.